As naturezas-mortas de Clara Peeters (1607–1621) confirmam seu interesse pela realidade que a envolvia na sua rotina. Suas pinturas enfatizam imagens de objetos comuns, como flores, frutas, louças, jarras, doces e salgados, queijos e demais alimentos ou artefatos para o lar. Era através desses elementos que a artista visual mostrava, em detalhes minuciosos, costumes da vida cotidiana de sua época.

Mas não foram somente os elementos do lar que a artista pintou em seus quadros. Há mistérios que foram descobertos a partir de muita análise. Continue lendo para saber mais sobre os indícios deixados como marca da artista em suas obras.
Sabe-se que a artista viveu na cidade de Antuérpia (Bélgica), entre finais do século XVI e a segunda década do século XVII. Porém, escassos são os dados sobre a sua existência, ou seja, a maior parte das informações a seu respeito resulta de pesquisas sobre um conjunto de pinturas identificadas por meio de sua peculiar assinatura: pequenos autorretratos inseridos nos reflexos dos objetos que compunham suas naturezas-mortas. Pelo fato de terem sido propositalmente executados pela artista de uma maneira subliminar, somente são identificados muito séculos após, quando a partir de concentradas análises foi possível dimensionar questões que traduzem a importância de Peeters no meio artístico daquela época.
Autorretratos nos reflexos dos objetos presentes nas pinturas
A artista incorporou discretos autorretratos nos reflexos dos objetos presentes em suas naturezas-mortas, identificáveis em pelo menos oito de suas obras. Essas imagens quase passam despercebidas devido ao seu tamanho diminuto em relação à escala real da pintura, o que torna sua visualização desafiadora para o espectador.
Revelados e examinados apenas muitos séculos após o falecimento da artista, esses autorretratos evidenciam o elevado nível de habilidade técnica de Clara Peeters ao representar a si mesma em dimensões reduzidas e com minuciosos detalhes.
As imagens reveladoras da artista nos elementos de seus quadros
Em um período histórico em que as mulheres não podiam assinar as suas obras de arte (ou as assinavam com pseudônimos masculinos), Clara Peeters deixa marcas de referência de si mesma nos seus quadros. A seguir, vamos observar essas marcas da artista nas suas pinturas.

Natureza-morta com queijos, alcachofra e cerejas. Clara Peeters, 1625.
A partir do quadro acima, vamos analisar os detalhes que se encontram na jarra, com a qual a artista aproveita para se autorretratar.

Veja na imagem da jarra que a artista se retratou em tamanho reduzido e detalhado, com sua imagem invertida, provocando a sensação de que estamos testemunhando-a pintar em tempo real. Agora, analise novamente a jarra. Nela, a artista não se retratou apenas uma vez, mas quatro vezes. Observe!
Natureza Morta com Queijos, Amêndoas e Pretzels

Outro quadro em que você pode observar a presença da artista com marcas pessoais é o Natureza Morta com Queijos, Amêndoas e Pretzels.
Em uma de suas obras, encontramos uma faca onde ela inscreve seu nome e um biscoito moldado à letra “P”, sugerindo uma conexão pessoal com seu sobrenome. Esses detalhes não apenas personalizam a cena, mas também adicionam uma camada de autenticidade à composição.
Veja, a seguir, o detalhe do nome da artista, que se encontra na faca pintada no quadro.

Agora, analise a tampa de metal do jarro de barro. O que você vê?

Naturalmente, Clara Peeters se retrata em suas obras como uma selfie de hoje, marcando sua presença de forma sutil para que o mundo não a apague, pois não podendo assinar suas telas, a maneira de perpetuar seu talento foi se colocar dentro de objetos e comidas, servida para todos e todas que um dia iriam a descobrir.
Assista ao vídeo e saiba mais sobre Clara Petters, a primeira mulher artista visual da história a expor no Museu Nacional do Prado. Há muito o que aprender sobre suas obras, já que ela conseguiu driblar o destino do apagamento de sua autoria na história da arte.
Para saber mais sobre Clara Peeters:
Os autorretratos escondidos de Clara Peeters: a imposição de si mesma
As grandes artistas que a história esqueceu




E hoje ficamos por aqui.
Se você quiser ver mais arte visual de artista feminina, acompanhe as obras de Lília Manfroi.
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Vida digital –Equipe Editorial de Conteúdo
