A artista visual brasileira, Tadáskía, conquista um patamar de destaque mundial, levando suas obras para a exposição Projects: Tadáskía no Museu de Arte em Nova Iorque – MoMA (Museum of Modern Art).
Tadáskía é uma artista trans negra de Santíssimo, um bairro na periferia do Rio de Janeiro, Brasil, que trabalha com fotografia, práticas em papel, instalação e performance, e sua arte promove a abertura que instiga o público à questionar e vagar pela proposta que ela apresenta.

Seu trabalho é caracterizado pelo uso de materiais orgânicos e simbólicos, como carvão, azeite de oliva e fios de cobre, que criam uma conexão entre o presente e as tradições culturais e religiosas afro-brasileiras. Os temas que apresenta são complexos, como identidade, espiritualidade, e a relação entre o corpo e o tempo, frequentemente incorporando elementos de sincretismo religioso e explorando a autonomia e coletividade dos objetos em suas obras.
Que todas as pessoas sintam-se livres para interpretar meu trabalho a partir da própria sensibilidade. E com sorte, desejo que meu trabalho leve quem quiser para um mundo místico, o reino do amor e da imaginação, onde a mudança é possível e bem-vinda.
Projects: Tadáskía no MoMA (Museum of Modern Art)
A exposição inclui uma instalação site specific1, um grupo de esculturas, e a obra central denominada ave preta mística mystical black bird – um livro de poemas bilíngues de páginas soltas e inscrições gráficas. Os desenhos são produzidos em carvão e pastel seco, propagando um ambiente imersivo que insinua a presença da artista no local.




Inspirado em parte no livro 17 de Fábulas do Século de Jean de La Fontaine, ave preta mística (mystical black bird), 2022, é composto por 61 folhas de papel que combinam desenhos livres com textos poéticos em português e inglês.
A história, que se desenrola de uma folha para outra, narra a fantástica jornada da ave em direção ao crescimento coletivo e à liberdade. As imagens variam e sofrem transformação – aparecendo como luas crescentes, sóis brilhantes ou formas abstratas e ambíguas – referenciando o texto poético.

Neste trabalho, e em toda a sua prática mais ampla, Tadáskía emprega frequentemente uma abordagem improvisada, por vezes fechando os olhos quando inicia uma composição ou produzindo um novo trabalho em resposta a um local específico. Por ocasião da exposição, Tadáskía apresenta os temas de ave preta mística para criar desenhos de parede e esculturas em grande escala, responsivos ao local, no espaço da galeria do MoMA até o dia 14 de outubro.
Segundo Tadáskía:
O nome ave preta mística veio por eu perceber que um voo não acontece apenas no mundo físico: um voo pode acontecer por uma coisa visível ou invisível, grandiosa ou subatômica. Um ser voador, na minha imaginação, confere a nós um sentido de liberdade ao se achar e ao se perder. Logo depois de nomear o livro descobri que a palavra mística pode inclusive significar “aquilo que está de olhos fechados”. Dessa maneira, uma ave preta mística pode voar até as dimensões ocultas, cantando livre dentro e fora do nosso tempo conhecido.
A exposição será acompanhada de um guia de áudio, disponível em português e inglês, onde Tadáskía copartilha suas influências, processos e abordagens artísticas (MoMA Press).

A exposição é organizada em colaboração com o Studio Museum in Harlem, que tem como objetivo divulgar artistas em ascensão e variar os olhares à arte contemporânea. A organização é de Thelma Golden, diretora e curadora-chefe do Studio Museum no Harlem; Ana Torok, curadora assistente de Sue e Eugene Mercy Jr., do Departamento de Desenhos e Gravuras do MoMA, com a assistência de Kiki Teshome.
Há e sempre houve uma arte incrível vindo do Brasil e estou emocionada que Tadáskía, com seus desenhos e esculturas imaginativos, irá transportar esse dinamismo criativo e fundamentá-lo em uma instalação específica para o espaço do projeto do MoMA. Esta colaboração especial é uma oportunidade notável para defender uma voz emergente na arte contemporânea e promove o compromisso do Studio Museum com artistas de ascendência africana em todo o mundo. Sou infinitamente grato a Glenn Lowry e ao Museu de Arte Moderna pela sua parceria, que durante cinco anos garantiu a continuação do trabalho crítico no Studio Museum.
– Thelma Golden
Sobre Tadáskía

Nascida no Rio de Janeiro, em 1993, Tadáskía é uma artista visual brasileira reconhecida por seu trabalho inovador em desenho, fotografia, instalação e têxtil, que mobiliza paisagens inventadas e místicas. Sua obra explora paisagens inventadas e místicas, com um enfoque especial nas experiências da diáspora negra, com abordagens marcadas por um senso de identidade e sincretismo religioso, influenciado tanto por religiões afro-brasileiras como o Candomblé e Umbanda, quanto pelo Pentecostalismo de sua criação.
Desenhar e escrever são interesses meus antigos. Quando criança eu amava desenho animado, inclusive a versão mais maluca e antiga do Pica-Pau. Minha mãe me dizia que para eu conseguir ver esse desenho animado ela precisava fechar toda a casa, que era na época um cômodo só, para que a luz não invadisse a tela antiga da televisão de tubo. Era preciso ficar no escuro para que o desenho animado pudesse aparecer. Depois, entre meus 11 e 12 anos de idade, fiquei internada por conta de uma bactéria que tomou metade do meu rosto; foi ali no hospital que conheci uma enfermeira que se vestia de palhaça para animar as crianças e contar histórias toda tarde. Quando eu fiquei de alta hospitalar a palhaça me deu um grupo de livros das fábulas de La Fontaine. Nunca mais revi esses livros, só na infância, depois os perdi. No entanto, a partir daí, com meus 13, 14 anos começo a escrever constantemente em um computador velho que me dava choque. A vontade de escrever me possuía de maneira até mais consciente do que o ato de desenhar. Isso porque eu desenho desde muito pequena, no chão da casa, pelas portas e paredes. O desenho sempre esteve até de maneira inconsciente comigo. Naquela época, escrever passou a ser minha forma mais estranha de tentar dizer para o mundo, o que eu sentia de mais oculto.
Tadáskía não tem medo de aprender, tentar e errar. Inclusive, é isso o que a humaniza. “É interessante aceitar a errância. Não como condição primordial, mas como condição a partir da qual a gente consegue se mover. Isso está nos meus desenhos”, explica. “Na parede principal da exposição, fica a dúvida se as aves estão voando ou se elas estão caindo. Porque tudo que voa pode cair também. Tudo que está no ápice pode também estar no chão. E tudo que está no chão pode também estar no seu ápice.”
Tadáskía (Brasil, 1993), é formada em Artes Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e tem se destacado em exposições nacionais e internacionais.
Leia a entrevista completa de Tadáskía
Tadáskía: exposições individuais
- Flores e frutas, Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro, Brasil (2023)
- As Parecidas, Galeria Madragoa, Lisboa, Portugal (2023)
- Jaguatirica Rara, Galeria Joan Prats, Barcelona, Espanha (2023)
- Noite dia, Sé Galeria, São Paulo, Brasil (2022)

Tadáskía: exposições coletivas
- 35ª Bienal de São Paulo (2023) com coreografias do impossível (que reuniu obras de 121 participantes de todo o mundo), com uma instalação em grande escala com seus desenhos murais e esculturas.
- Direito à forma, Galeria Fonte – Instituto Inhotim, Brumadinho, Brasil (2023)
- 37° Panorama da Arte Brasileira – Sob as cinzas, brasa, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil (2022)
- Dos Brasis, SESC Belenzinho, São Paulo, Brasil (2023)
- O silêncio das línguas cansadas, Framer Framed, Amsterdã, Holanda (2022)
- Eros Rising: Visions of the Erotic in Latin American Art (Visões do Erótico na Arte Latino-Americana), em Nova York em 2022
Acesse o catáçogo da 37° Panorama da Arte Brasileira Museu de Arte Moderna de São Paulo
Tadáskía em áudio: influências, processo de criação e leitura do poema
Comecei a fazer ave preta mística mystical black bird primeiramente pelos desenhos. Eu fiz todos os desenhos para depois fazer os textos poéticos; fui desenhando livremente, e assim a história começou a surgir. Eu embaralhei os primeiros desenhos com os últimos, do mesmo jeito que o texto que inicia o livro não é necessariamente o que foi feito primeiro. O início, o meio e o fim se confundem continuamente em minha história.
Faça um tour na galeria de arte de Lília Manfroi
- Site-specific é um termo que se refere a obras de arte criadas para um determinado local, de forma a dialogar com o ambiente. Estas obras estão intimamente ligadas ao espaço em que se encontram e não podem ser apreendidas fora do local. ↩︎
