Leonilson: Agora e as Oportunidades no MASP

Leonilson: Agora e as Oportunidades é uma retrospectiva que resgata os trabalhos finais do artista visual de alma pop da Geração de 80. A exposição ocupa o Museu de Arte de São Paulo – MASP, de 23/08 a 17/11

O artista visual brasileiro Leonilson (Fortaleza, Ceará, 1957-1993) contempla uma posição única e paradoxal na história da arte brasileira. Lugar de destaque e referência e, concomitantemente, paradoxal, na medida em que assume a marginalidade singular e inconfundível.

Explico: o artista cearense não se encaixa em definições ou classificações em períodos da arte no Brasil, ou seja, as definições tradicionais de movimentos e gerações que imprimiram conceitos em cada época. Você conhecerá, a seguir, o porquê desse lugar ocupado por Leonilson no horizonte da história da arte brasileira.

A exposição Leonilson: Agora e as Oportunidades apresenta o período conhecido como “Leonilson tardio”, fase madura do artista em que aprimora sua linguagem visual e poética, reduzindo gradualmente os elementos em suas composições. Esse refinamento estético é frequentemente marcado por traços religiosos, resultando em obras de uma espiritualidade profunda, como a sublime “Instalação sobre Duas Figuras” (1993). A iminência do contato com a morte, causada pelo HIV, é um dos principais temas de sua produção, como veremos.

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A instalação originalmente criada para a Capela do Morumbi foi a última obra de Leonilson, que ele não chegou a ver concluída devido à sua morte em 1993, aos 36 anos. Vindo de uma família católica, Leonilson subverte a iconografia religiosa ao se apropriar dela de maneira única e provocativa.

Embora seus temas tenham uma natureza confessional, é importante entender o trabalho de Leonilson não apenas por meio de sua biografia –  já que ele frequentemente entrelaça realidade e ficção, vida pessoal e fantasia – mas pela monumental construção poética que ele cria por meio de imagens, materiais e textos.

Quando soube de sua doença e sua saúde se deteriorava ao ponto de não mais poder manipular tintas, passou da pintura a pequenos bordados em bolsos, bolsas e pedaços de tela. 

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A exposição Leonilson: Agora e as Oportunidades

A exposição está organizada em cinco salas, cada uma dedicada a um ano específico da produção de Leonilson entre 1989 e 1993, e localiza-se na galeria do primeiro andar do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

A exposição também enfatiza a postura política de Leonilson, emprestando seu título de uma obra de 1991, em que o artista desenhou seis copos para representar diferentes minorias, identificadas na tela como “os negros”, “os homossexuais”, “os judeus”, “as mulheres”, “os aleijados” e os “comunistas”. As ilustrações criadas por Leonilson para a coluna de Barbara Gancia entre 1991 e 1993 também são apresentadas, ocupando todo o mezanino no primeiro subsolo do museu.

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Obra feita especialmente para a coluna “Talk of The Town – O ti-ti-ti da cidade”, da jornalista Barbara Gancia na Folha de São Paulo, publicada entre 1991 e 1993.

Mais de três décadas após sua morte, a obra de Leonilson continua a oferecer novas possibilidades de leitura, inspiração e significado.

A imagem do artista que persiste é a de um anti-herói ressonante, multifacetado e contraditório, cuja obra continua a ecoar em muitos de nós, através de suas pinturas, exposições, livros, filmes, peças teatrais e até mesmo tatuagens.

— O trabalho de Leonilson é todo pessoal, mas transcende o mero diário ao aplicar a suas anotações uma síntese poética e formal extraordinária, seja em desenhos, pinturas, instalações ou bordados. Arriscaria dizer que ele é o artista brasileiro cujo trabalho é o mais traduzido em tatuagens, como se pode ver na hashtag #Leonilson nas redes sociais.

Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp e curador da mostra.

“A Paixão de JL” (2014) – Trecho do filme

Assista ao vídeo em que, em janeiro de 1990, Leonilson iniciou a gravação de um diário em fitas cassete. Desde o início, ele pretendia criar um registro público de suas memórias cotidianas, em harmonia com sua obra pictórica. No entanto, o que ele não previa era como sua vida cotidiana se transformaria após descobrir que era portador do HIV.

Na exposição, que integra a programação anual do museu dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+, há mais de 300 trabalhos, entre pinturas, desenhos, bordados e instalações que refletem as sutilezas do artista ao expressar perspectivas políticas, públicas e íntimas.

Esse é o panorama dos últimos cinco anos de vida de Leonilson, desenvolvendo trabalhos mais emblemáticos, explorando a intimidade, como o amor, a sexualidade, o abandono, a perda e a doença. Dois anos antes de seu falecimento, descobriu ser HIV positivo, tornando-se um porta-voz na resistência à estigmatização e segregação que a sociedade da época impunha sobre grupos minoritários.

O foco da exposição no período de Leonilson tardio (concentrando-se na produção entre 1989 e 1993 ) é destacado por um certo minimalismo que, para o curador assistente Teo Teotonio, “politiza seu diário pessoal e permite que ele fale também do outro”.

As figuras geralmente não têm rosto, é ele e não é ele. Essa economia de traços, esses detalhes, fazem a ponte entre ele e outro — diz Teotonio.

Para saber mais sobre a exposição, acesse o canal do MASP

Esse “é ele e não é ele” aparece em diversos trabalhos, como “Slave”, que alude a práticas sadomasoquistas, e “O q. você desejar, o q você quiser, eu estou aqui para servi-lo” (túnica cerimonial com o título bordado na barra).

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A curadoria da exposição “Leonilson: Agora e as Oportunidades” é de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, com assistência curatorial de Teo Teotonio.

Após 20 anos de pesquisa Leonilson ganha catálogo com 1.100 páginas

Para explorar mais sobre Leonilson e sua obra, você pode conferir os seguintes links:

Leonilson – Instalação sobre duas figuras, 30 anos depois | Mesa redonda

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A pintufra Empty Man (O que posso fazer dentro de mim),1991, é seu último trabalho. Neste, ele retrata formas coloridas semelhantes a órgãos humanos e há palavras em torno deles: interior dourado, o que há de você em mim, joias. Dentro dele, encontramos as pedras preciosas, retalhos de tecido, botões e palavras fragmentadas de sua arte. Sobre sua obra, o artista disse: “Eu faço coisas para aqueles que amo”.

MASP Palestras | Leonilson e as formas de amar

Para saber mais sobre a exposição, acesse o canal do MASP

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Vida digital –Equipe Editorial de Conteúdo

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