
Leda Catunda é pintora, escultora a artista gráfica, considerada uma das referências das artes visuais do Brasil, da geração de 1980. Nascida em São Paulo em 1961, é reconhecida por suas contribuições inovadoras no campo da pintura e da gravura. Graduou-se em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) no início dos anos 1980, onde foi aluna de ícones nas artes como Regina Silveira, Julio Plaza e Nelson Leirner, o que influenciou profundamente sua formação artística.
O marco inicial de sua carreira foi a exposição coletiva Pintura como Meio (1983), organizada por Aracy Amaral no Museu de Arte Contemporânea – MAC-USP, que apresentou o trabalho de novos artistas no cenário paulistano.
Em 1984, Leda Catunda ganhou destaque nacional ao participar da exposição Geração 80: Como Vai Você?, realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Durante a década de 1980, suas obras se caracterizavam por um tom humorístico e por serem compostas de materiais inusitados como lençóis, toalhas, tapetes, lonas, pedaços de couro e colchões, subvertendo a funcionalidade dos objetos cotidianos.

Acrílica sobre cobertor
192,50 cm x 157,50 cm. Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Além de seu trabalho como artista, Catunda se dedicou ao ensino. Foi professora na Faap e em outras instituições culturais no Brasil e no exterior. Em 1990, ela recebeu o Prêmio Brasília de Artes Plásticas na categoria Aquisição, e em 2003 defendeu sua tese de doutorado Poética da Maciez: Pinturas e Objetos Poéticos na ECA-USP, sob orientação de Julio Plaza.

Acervo Banco Itaú
Características e evolução de suas obras
Influenciada por correntes como o Neoexpressionismo na Europa e nos Estados Unidos, artistas visuais Julian Schnabel, Sandro Chia e Francesco Clemente foram suas principais referências desse movimento artístico. Com isso, sempre buscou explorar os limites da pintura, utilizando técnicas e materiais diversos. Suas primeiras obras combinavam crítica conceitual e expressividade plástica, dialogando com o trabalho de artistas como Julian Schnabel e Sandro Chia.
Com o tempo, a artista incorporou elementos figurativos da cultura popular e materiais como meias e camisetas, criando superfícies pictóricas únicas e tridimensionais.

Na década de 1990, suas obras evoluíram para composições mais limpas, com menos cor e maior maleabilidade, trazendo referências à natureza, como rios e gotas d’água.
a partir da década de 90, os materiais e objetos passam a propor o amolecimento como ideia de maciez, e o relevo pintado passa a ser denominado pela artista como pintura-objeto. Tendo, portanto, a pintura como ponto de partida e de chegada, Leda Catunda encontra na ‘maciez’ o sensível que atravessa e age como elemento aglutinador de sua poética. A maciez passa a incorporar os seus discursos plásticos pela materialidade dos tecidos, ou dos objetos escolhidos como elementos potencializadores de reconhecimento visual-tátil de suas pinturas objetualizadas.
Teresinha Barachini in Maciez, pressuposto aglutinador da pintura-objeto de Leda Catunda
Ao longo dos anos, a artista passou a explorar texturas e tecidos, utilizando materiais como tule, veludo, plástico e couro, sempre mantendo um caráter abstrato e provocativo.

Acrílica sobre tela e tecido
Installation view, MAM Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil, 2013
Nos anos 2000, Leda Catunda intensificou sua investigação sobre a banalização das imagens na sociedade contemporânea, utilizando suas obras para provocar o olhar do espectador e instigar o desejo de tocar e sentir as texturas, explorando a pintura como um meio de reflexão sobre a percepção do mundo e a forma artística. “É algo que trago para o meu trabalho: o desafio contemporâneo de que o gosto muda de segunda para sexta-feira.”, diz a artista.
Ela pode ser considerada uma pintora-costureira, pois ela costura os elementos que irão servir como tela, e pinta por cima do elemento em questão. Ao reunir e costurar literalmente essas imagens, Leda nos convida a refletir sobre a construção de identidade projetada e divulgada. De um lado, ela apresenta figuras e símbolos facilmente reconhecíveis em grupos específicos — como na obra Lobo, direcionada aos que se identificam com o universo do heavy metal.

A intensa convivência com essas imagens leva a artista a questionar um outro fenômeno: o consumo. Em obras como Coisas para Comprar, Leda explora a abstração geométrica utilizando logomarcas para refletir sobre como somos guiados pelo consumo dessas representações.

Colagem
150 x 106 cm
“Eu me alimento da rua, do visual, das escolhas das pessoas. Gosto de gostar do que estão gostando.”
Leda Catunda
Aqui, o gosto é apresentado como um meio através do qual multidões de consumidores, quase anestesiados, se deixam levar.
Assista à entrevista com Leda Catunda por Ilê Sartuzi no ateliê da artista em julho de 2018. A conversa foi realizada por ocasião da exposição Transformers, no Auroras, em São Paulo.
A publicação ressalta o interesse de Leda pelos universos popular e kitsch, criando uma poética visual que combina imagens de acervo pessoal e da internet com formas arredondadas e orgânicas. É nesse contexto que surge o nome do livro Tempo Circular, que traz uma entrevista entre Fernanda Brenner e a artista, abordando como a repetição e os ciclos de tempo influenciam a obra de Leda.






Fonte das imagens: Paulo Darzé Galeria
Leda Catunda continua a desafiar as convenções das artes visuais, unindo inovação técnica e profunda sensibilidade estética, consolidando-se como uma das figuras mais relevantes da arte contemporânea brasileira.
Por fim, as obras de Leda Catunda levantam questionamentos importantes: Como arranjos feitos com materiais tão descartáveis podem se tornar memoráveis? Existe autenticidade no coração de símbolos pré-fabricados? Por que criar novas imagens? Por que ainda insistir em observar atentamente o que nos cerca? Como viver rodeado de imagem e se tornar uma delas?
Sobre o futuro, parece que ele chegou agora mesmo, com a surpresa pelo convite para expor, no ano que vem, em Sharjah, nos Emirados Árabes. Quem a chamou foi a sheikha Hoor Al Qasimi, também diretora artística da Bienal de Sidney, na Austrália. Leda Catunda diz ter perguntado a Hoor o motivo do convite. A resposta, diz, foi bem objetiva: “Você é meio diferente”.
Inspire-se
ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10215/leda-catunda
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Produção: Vida digital – editorial e curadoria de conteúdo sobre artes visuais




